Os reflexos da pandemia não se restringiram apenas à área da saúde pública. A economia do mundo também tem sofrido diretamente com os impactos negativos, e isso tem elevado as taxas de juros. Em menos de um ano, as projeções do Banco Central para a inflação em 2021 passaram de 5,8% para 8,59%, sendo que a taxa Selic fechou em 7,75% em outubro.
Diante disso, quem teve de refazer as contas foram os síndicos. Com o pesadelo da inflação rondando a vida dos brasileiros, muitos gestores estão tendo dificuldades para fechar o caixa com base na previsão orçamentária e já discutem a necessidade de aumento na taxa mensal.
Nos condomínios administrados pelo síndico profissional Edgar Francis, que há 23 anos atua no mercado catarinense, há três meses as contas não estão fechando. “Com o aumento dos insumos fui obrigado a convocar uma assembleia para conversar com os condôminos e rever a planilha orçamentária de cada empreendimento. Temos um caso, por exemplo, que aplicamos um reajuste de 20,64% na taxa de condomínio para dar conta dos gastos”, explica.
Além disso, o gestor tem investido na renegociação de contratos. “Algumas empresas e fornecedores ainda têm margem para negociação. A ideia é equilibrar as contas para que sejam factíveis para o perfil de cada condomínio. Além disso, temos um rigoroso acompanhamento das contas, onde a planilha orçamentária, há anos, sempre foi bastante justa em relação às despesas, tentando poupar ao máximo para os condôminos. Não deixamos ‘gordura’ no orçamento”, comenta Francis.
Estratégias também adotadas por Rangel Correa Vargas, que há 13 anos atua como síndico profissional e atualmente está à frente de 17 empreendimentos. Para ele nenhum condomínio deixou de ser afetado e nenhum foi mais afetado do que o outro. Cada espaço está sofrendo os impactos proporcionais à sua realidade. Sejam eles residenciais, ou comerciais.
Além disso, ele aponta que o aumento generalizado dos custos e a inflação têm gerado uma tensão interna nos condomínios, o que afeta tanto a relação entre os moradores, quanto entre os condôminos e a administração. “Como síndico busco conversar com os moradores, captar sugestões que possam contribuir para a diminuição das despesas, além de atuar como conciliador. Entender os anseios e as necessidades desta microssociedade chamada condomínio e, de certa forma, tentar manter a paz tem sido desafiador”, pontua Vargas.
Nos espaços que administra, ele destaca que a principal medida que está sendo adotada é a reavaliação das despesas ou a real necessidade dos investimentos, dando assim foco às prioridades.
Mesmo com a necessidade dos ajustes, vale lembrar que os síndicos devem ficar atentos quando se trata de preços, pois o menor orçamento nem sempre é o mais indicado. Principalmente porque a qualidade dos serviços não pode ser impactada. E outro ponto que não deve ser adiado são as manutenções, já que podem trazer riscos aos moradores.
Por se tratar de um momento financeiro delicado, com muitas famílias impactadas por reduções no salário ou desemprego, a inadimplência se tornou um receio. E para evitar que este cenário se torne um problema ainda maior, tem síndico buscando orientação com especialista. Samara Lobo Cidade, sócia contadora de uma administradora de Florianópolis, conta que tem auxiliado muitos gestores na análise dos balancetes dos últimos meses, na tentativa de equilibrar as contas.
“Estamos juntos criando mecanismos para atender o movimento do mercado, sem aumentar muito a taxa. Entre as medidas, os síndicos têm preferido continuar com o reajuste via assembleia. Entretanto, há casos em que foram feitos dois reajustes ao ano. Um na AGO e o outro logo após o dissídio dos funcionários, para os ajustes necessários”, explica a especialista.
Além disso, Samara relata que para cortar despesas todos os processos dentro dos condomínios estão sendo revistos. Desde compra de materiais até contratação de serviços foram substituídos, sendo que agora são orçados exaustivamente até conseguir a melhor negociação. “A ideia é enxugar despesas, estudar os custos e avaliar todos os gastos”, afirma Samara. A especialista indica ainda que os gestores verifiquem, junto às administradoras, prestadores de serviços que tenham nota fiscal e não sejam MEI. “Esse cuidado evita o pagamento de impostos mais altos”, explica.
Por: Dariane Campos